Reflexões sobre a recepção do álbum The Life of a Showgirl a partir de outras coisas melhores e mais interessantes que o álbum em si
Uma amiga me disse que quanto mais a gente cria recursos e personagens pra escrever, mais se torna autobiográfico, e eu concordo. Como agora eu tô basicamente de cama e impedido de me sentar direito ou fazer qualquer outra atividade, minha mente tá viajando pra lugares distantes, pra eu me distrair do agora.
Once upon a time, there was a girl
She lived in the land of never-never
Where everything real is unreal
And only fairy tales come true
- (Theme) Once Upon a Time - Donna Summer
Eu li recentemente que tem certas coisas da realidade que a gente só consegue enxergar através de espelhos, e a fantasia é um desses espelhos. Se a arte é o espelho difuso que a gente tem pra enxergar certas coisas, a indústria de produção em massa é um vitral, um mosaico ou qualquer coisa milhões de vezes mais fraturada e opaca que quer capturar e distorcer nossa atenção a todo custo. Pense no filme O Mágico de Oz, com os sets e figurinos que saltam aos olhos e quase dão uma dor de cabeça, os sapatinhos vermelhos, a estrada dos tijolos amarelos, a cidade Esmeralda... É interessante que existiram interpretações muito diferentes e até opostas sobre a suposta mensagem política do livro e do filme. Afinal, quando você olha pra um espelho, tudo que você vê é reflexo, projeção. Isso significa que a obra não tem mensagem nenhuma? Não - mais sobre isso daqui a pouco. Mas ainda assim eu acho que vale a pena falar sobre essas coisas que talvez sejam meros jogos de luz, porque talvez as coisas mais bestas, divertidas ou ambíguas são as que melhor revelam a cultura que as produziu. Não a beleza de um vitral, mas a transparência de um prisma; vazio sim, mas útil pra vermos quais são as luzes que brilham e quais se apagam em cada época.
É mais ou menos assim que eu quero olhar pra esse novo álbum da Taylor. Eu sinceramente tô amando acompanhar esse ciclo e a recepção das pessoas. Estão surgindo subgrupos e narrativas conflitantes: tem fã antigo detestando, tem fãs falando que ela decaiu em relação aos últimos álbuns, tem gente falando que é tudo uma sátira e as letras cringe são auto-conscientes... sinceramente parece uma seita que acabou de perder um líder, e pra muita gente (inclusive eu) foi um pouco confuso por que justamente agora uma pequena parte da fã base dela pareceu "acordar". Antes que você ache que isso é hate, na verdade tá mais pra o contrário... esse tanto de dedicação só pode ser devoção, talvez até amor, o tanto de energia que eu tenho dedicado a ela ou por causa dela. Por ora, vamos esquecer todas as críticas e falar sobre uma coisa boa que esse álbum me proporcionou: assistir o filme Showgirls (1995).