Ultimamente além do mangá que eu estou lendo devagar e sempre, Monster, eu de vez em quando tenho me divertido explorando o MyAnimeList, vendo os mais variados títulos e suas diversidades de arte/traço, temáticas e ambientação, e também fazendo uma pequena listinha. De certa forma é um eco do meu eu do passado, usuário assíduo do Skoob, que tinha favoritos, listas de quero ler, e que dava estrelas pros livros. Agora eu lembrei que muito tempo atrás, provavelmente em algum momento de 2013 ou 14, eu já tive um blog de resenhas de livros. Não durou muito tempo e eu não sei porque parei de fazer também.
    Ok, após uma breve pesquisada eu consegui achar o meu antigo blog, que como eu desconfiava nunca tinha sido deletado, só abandonado. Pelo que eu tenho visto essa é uma prática comum e de vez em quando você topa algum blog que o último posto foi em 2010, 2016, 2021... Acho que eu abandonei porque eu queria uma frequência de postagens mais alta, sendo que eu não lia um livro toda semana; eu desconfio disso porque existe uma série de postagens (com apenas 2) em que eu postei top 10 livros relacionados a alguma coisa, como morte. O mais engraçado é que a maioria dos livros que eu reuni, eu não tinha lido... Qual o sentido de rankear eles então? Eu não faço a menor ideia. Eu tava atirando pra todo lado pra produzir conteúdo e naquela época não tinha como fazer dancinha. Tem também um top de personagens coadjuvantes, pelo menos todos são de livros que eu tinha lido (na minha concepção da época do que era ter lido). 
    Outro tipo de post são as resenhas, e gente, que cringe... Acho que é mais fácil fazer as pazes com sua criança interior do que com seu adolescente interior. É muito, muito interessante perceber como eu era um tipo de leitor, ou melhor, consumidor de livros, bem típico da geração, e moldado por tendências que eu vejo que hoje em dia só se acentuaram entre consumidores de livros infantojuvenis e teens (ou "adultos", vulgo livros com cenas sexuais).
	    Primeiro que o meu universo era extremamente reduzido, apesar de na época eu achar que era grande. O que aconteceu era que eu tinha lido o mesmo livro várias vezes diferentes escrito por autores diferentes, com pequenos ajustes na receita. Não só isso mas as minhas referências também, porque até os exemplos que eu peguei do que eu não tinha lido eram de uma vertente bem específica de livros famosos no Skoob na época. Sim, antes do booktok e até do booktube nós tivemos ele. Sabe aquela fase em que você acha que atingiu um grande marco ao ler A revolução dos bichos, esse livro super importante, profundo e necessário... Então, era mais ou menos esse naipe.
	    O último post do blog é de dicas pra ler livros em inglês e o que tem lá é o oposto de tudo que eu diria hoje. Fora isso, os outros posts são resenhas de livros que eu estava lendo na época (os dois últimos em inglês); talvez por eu passar bem mais tempo pra ler eles, eu parei de postar no blog. Tem uma coisa nas resenhas que me incomoda muito, a redação delas em si até que é okay, e tem alguns comentários falando que a minha escrita é boa, é só que não tem conteúdo nenhum.
	    Quer dizer, ter tem, tem a premissa e sinopse dos livros mas lendo agora eu tive a sensação de que parecia uma publicidade, e eu nem me dava conta, sendo que não fugia do padrão de resenhas difundido na época (e até hoje em dia) nesses canais literários. Meio que você tem que falar sobre o livro sem realmente falar sobre ele, já que não pode dar spoilers consideráveis, ou mesmo que dê, seus comentários tem que ser mais pontuais e geralmente você iria falar sobre a surpresa que certo acontecimento te causou ou qual ser personagem preferido... Não tem realmente muito desenvolvimento, e essa é a proposta do gênero, afinal, resenha é diferente de análise. Por mais que a função da resenha seja falar sobre um texto pra alguém que ainda não leu, se tornou muito mais uma forma de divulgação gratuita feita por várias pessoas na internet em benefício das editoras dos livros do momento, sem nem elas perceberem isso. É fascinante perceber essas coisas com o distanciamento de alguns anos agora.
	    Além disso, os próprios livros também não eram complexos assim que rendessem análises individuais. Eu acho sim que você pode fazer análises ricas de um objeto pobre, mas aí você tem que ter no mínimo um contexto, uma bagagem. Eu não conseguia perceber os livros que eu lia naquela época como um nicho, ou como fruto de um país e uma época, porque quando tudo que você consome é isso, lógico que você não vai achar que é um nicho. É tipo fãs da Marvel que desprezam filmes iranianos que só existem na cabeça deles e não acham que estão em um nicho também. Então por mais que em tese nada impedisse a mim ou a ninguém de comentar sobre os livros de outra forma, não tinha bagagem mesmo pra perceber que tava faltando, e ficava nesse ciclo.
	    E por falar em ciclo... eu pensei imediatamente nesse texto (e em terminá-lo, ha) quando vi um tiktok de uma moça falando como ela percebia que algumas leituras emburreciam ela. Ela falava que basicamente ler livros da Collen Hoover deixou ela travada pra livros mais densos, que ela gostava de ler antes, e que agora pretende balancear os dois tipos de leitura. O mais interessante foi ver os comentários pedindo dicas de quais “clássicos” ler, algo que é extremamente comum de ver nesse tipo de conversa (além das pessoas xingando o Machado de Assis sem ele merecer).
    No meu caso, mesmo que o tipo de livro que eu lia mudasse, demorou um bom tempo pra o tipo de leitura que eu fazia mudar. O que eu queria que as pessoas pensassem era que simplesmente ir ler um livro mais antigo sem nenhum interesse específico, direcionamento ou contexto sobre aquilo quase nunca é uma boa ideia. Porque você acha que coisas boas de verdade não precisam de contexto pra serem entendidas, mas o que você não sabe é que em 2008, Kegin Feige lançou o filme do homem de ferro, e então depois disso os super heróis estavam em todas as coleções... Seu filme foi escolhido pra você pelas pessoas dessa sala
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    Enfim, uma experiência muito engraçada de leituras mais recentes de livros “clássicos” (dando como exemplo O Corcuda de Notre Dame) é perceber como o “enredo”, ou a intriga, se formos utilizar um termo mais técnico, na verdade é uma parte muito superficial do conteúdo do livro, principalmente nesse livro em específico. Simplesmente contar a história do que acontece não faz justiça, porque existem milhares de coisas não-essenciais ao enredo que compõem o que aquele livro é, e isso é muito mais complexo e difícil até do que construir um enredo, se eu arrisco dizer. Não consigo nem formular como é essa sensação de você estar lendo algo em que o autor não está só te contando uma história, mas ele tá reformulando a sua visão e experiência do mundo ao seu redor através desse mini mundo que ele criou. 
    Acho que comecei a entrar em devaneios então vou parar por aqui. Não é bem uma conclusão porque parece que eu tô o tempo todo escrevendo sobre isso... Eu acho que todas essas coisas são absolutamente desimportantes, mas são coisas que eu vivi, então pra alguma coisa essas vivências tem que servir. 
 
Vou adotar tua lógica de que se eu não lembro, eu não li, se não marcou em nada, não era uma leitura significativa. Agora, que minha leitura também é diferente e mais lenta, as experiências tem tempo para apreciadas, e acho que isso é um dos pontos mais revolucionários pra mim, na questão da leitura. Antes a intenção era quantidade e não a qualidade das leituras...
ResponderExcluirE aí vc vai refinando essa "qualidade" com o tempo tbm
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