Hoje é domingo, e faz uma semana desde que eu pensei em passar a postar mais aqui. Venho então deixar uma sementinha nesse mato que eu penso que daria um bom jardim, transferir coisas do papel pra habitarem também esse mundo.
Tenho tentado manter uma rotina e felizmente estou conseguindo fazer mais coisas das quais eu gosto e que me fazem bem; pintar, ler, escrever. Também tenho pensado sobre muitas coisas, e lido, e descobri que estava lendo sobre o que pensei, e pensei sobre o que estava lendo. Li que (parafraseando) pra você superar um trauma é preciso ter 100 vezes a mesma conversa sobre aquilo, e estou usando a escrita como algumas dessas vezes.
    Estou lendo Memórias do Subsolo do Dostoiévski e enxergando familiaridades nesse personagem detestável, doente e desajustado. O protagonista (e narrador) da história é frustrado por ser mais inteligente do que todo mundo, ao mesmo tempo que sofre por se sentir inferior e excluído. Ele tem interações sociais excruciantes e sempre consegue dizer as coisas da pior forma, e ficar se martirizando por isso, ao mesmo tempo em que não consegue melhorar. Ele se considera um homem de pensamento, ao contrário dos "homens de ação", que são as pessoas normais, práticas e simplórias na visão dele, e tem uma teoria de que o homem é irracional, e que mesmo que a ciência demonstrasse todas as ações que ele precisa tomar, ainda que a lógica delitime cada escolha de acordo com o melhor resultado, ele ainda iria se rebelar contra isso pelo simples prazer de fazer o que quer, e que seria capaz de enlouquecer de propósito pra se livrar disso, algo que o livro chama de "vontade independente". Eu achei isso simplesmente fascinante. 
    Um dos principais conflitos desse personagem é justamente agir; ele tem devaneios gigantescos, mas nunca faz o que pensa, apesar de tentar se convencer de todas as formas; e ainda assim sempre acha um meio de se justificar pra si mesmo:
"[...] incitando-me a mim mesmo com o consolo raivoso — que para nada serve — de que um homem inteligente não pode, a sério, tornar-se algo, e de que somente os imbecis o conseguem. Sim, um homem inteligente do século dezenove precisa e está moralmente obrigado a ser uma criatura eminentemente sem caráter; e uma pessoa de caráter, de ação, deve ser sobretudo limitada."
    Isso me lembra uma outra frase que vi no tiktok provavelmente: você se sente mal, e vai pensar sobre isso, e quando mais você pensa, pior se sente, e o ciclo continua... Ele é quebrado pela ação, então faça alguma coisa! Esse tem sido meu lema essa semana...
   

 
O video do infame Shia Labeouf falando "do it!", foi o que veio na minha mente agora. Fiquei pesando aqui que o personagem do livro se sente superior porque ele nunca comete um erro, porque ele nunca age, então ele não corre o risco de errada nada. Sendo isso um erro por si só. Ele é um covarde, paralisado pelo medo.
ResponderExcluirTipo isso, nunca erra porque nunca faz nada. E quando faz nunca é o que ele fantasiava que ia fazer, mas aí ele se convence que essa foi a melhor saída e a mais inteligente.. e se martiriza depois também, um ciclo sem fim
Excluir