Contra a minha vontade, esse está se tornando um blog de resenhas. Mas eu espero pelo menos dar algum sentido ou pelo menos acrescentar alguma coisa ao que eu escrevo aqui a respeito de outras coisas que leio, porque no fim das contas essa é a graça, o que eu ganho com as coisas que leio e o que eu dou de mim pra elas, e a leitura vai se formando nesse meio do caminho. Esse texto é pra lembrar a importância de ler coisas que você não gosta ás vezes, e como é maravilhoso ter contato com coisas ruins pra você saber como as boas são valiosas.
Eu terminei de ler o famoso A cabeça do Santo de Socorro Acioli, motivado principalmente por curiosidade junina, já que esse livro vai ser adaptado por uma quadrilha, e pensando em como falar sobre essa leitura, encontrei a resposta em um texto sobre outro livro (Salvar o fogo e Itamar Vieira Júnior), que vale a pena ser lido até se você não leu o livro em questão (como eu não li). Mas vamos por partes.
O texto chegou ao meu conhecimento porque gerou polêmica, o autor do livro acusou a autora do texto de racista por conta dessa crítica. Ironicamente, dentro do próprio texto a autora menciona um caso parecido que aconteceu antes, quando uma jornalista negra foi acusada de racismo e inveja por criticar o livro-fenômeno do autor, Torto Arado, que a atacou por DM. Uma boneca russa de takes errados. E olha que essa foi uma crítica bem comedida, que procura mostrar possíveis pontos positivos com uma boa vontade que eu estou tentando começar a ter, principalmente pra tentar escrever melhor. Pra mim o ponto chave do texto, que se aplica a tantas coisas atualmente, é esse:
Não quero fazer uma análise ponto por ponto do que achei ruim, não agora. Primeiro que muito da narrativa gira em torno da suposta fé da pessoas da pequena cidade católica, mas tanto da caracterização parece eles serem burros... Outro incômodo gigante é a narração. Parece que o narrador fala e pensa pelos personagens, em vez de contar o que eles falam ou pensam. Quando o narrador acrescenta alguma fala que condiz com o pensamento dos personagens (discurso indireto livre), parece muito mais um julgamento sobre a mentalidade atrasada de cidade pequena deles. E assim, não que não seja passível de crítica, mas o ponto é que crítica é diferente de julgamento. O resultado é que eu não consigo acreditar que essas pessoas e essa cidade existem (um dos objetivos do livro); isso é impedido pela pressa (e talvez até vaidade) da autora em "mostrar serviço", incluindo algumas frases e momentos bonitas, mas que acabam não tendo impacto nenhum.
Não é ruim assim o tempo todo, tem horas que quaaaase vai, mas não engata. Talvez há algum tempo eu conseguisse ignorar certos pontos ruins da escrita, mas provavelmente o resultado seria o mesmo: não me importar tanto assim com os personagens, a narrativa. Até porque, saiba você disso ou não, o livro não é o que está sendo contado através da escrita, ele é a escrrita. E por isso fica a sensação de que tem uma premissa que poderia render, se não fosse contada de maneira tão pobre.
 
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