quarta-feira, 25 de junho de 2025

Não sei se eu mudei, ou mudou o São João...

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Side A / Side B

Vamos a uma breve recapitulação, que muito provavelmente é o que esse blog vai ser mais usado pra registrar, pelo menos no futuro próximo. Então vou deixar aqui as músicas do mês de junho, que foi bem diverso.

    Pra começar, eu já tinha uma playlist de quadrilha, e comecei a ouvir ela logo na primeira semana do mês, porque pra esse tipo de festividade, que pra mim são marcos importantes do ano, você tem que criar o clima, senão vira um dia só e acabou. Mas esse ano eu fiquei extremamente suscetível ao Geraldo Azevedo e sua voz soprosa, e inclusive querendo ouvir todos os álbuns dele, coisa que não fiz, mas relembrei alguns clássicos, já que ele é um artista que na maior parte do tempo eu nem me dou conta de todas as músicas que conheço dele. Por acaso também assisti no Youtube uma quadrilha que usou uma música dele no espetáculo e ficou genial, porque era sobre ciganos e a música é Caravana. Aliás também pretendo tirar do papel o projeto de catalogar os meus espetáculos de quadrilha favoritos e os seus elementos, ter um cânone, um dossiê pra facilitar a pesquisa. Agora que escrevi isso lembrei que não fiz muita coisa que queria esse mês por causa de uma dor estranha no joelho que não só me incomodou ao ficar em pé, mas também me impediu de sentar por muitos dias. E na última semana também não tomei meu remédio direito por motivos do horário que eu acordei. Agora voltei a regularizar e tô esperando a devolutiva da psiquiatra pra aumentar minha dose. Olha pro céu, meu amor!

    Falando em São João, um dia eu fui pra academia e deixei um CD temático do Mastruz com Leite e acabei ouvindo uma música que não conhecia ainda:

Era a festa da alegria
São João!
Tinha tanta poesia
São João!
Tinha mais animação
Mais amor, mais emoção
Eu não sei se eu mudei
Ou mudou o São João

Vou passar o mês de junho
Nas ribeiras do sertão
Onde dizem que a fogueira
Inda aquece o coração
Pra dizer com alegria
Mas chorando de saudade
Não mudei nem São João
Quem mudou foi a cidade

    Um vídeo no Youtube diz que a original, de Luiz Gonzaga, é de 1958. Eu sempre acho interessante coisas que falam sobre a passagem do tempo (Le temps des cathédrales, a abertura de E o vento levou...), e que sobre o São João especificamente, o que hoje as pessoas sentem saudade e apontam como o São João que se perdeu, na época já era falado pelos mais velhos como uma versão menor de uma verdadeira festa que não volta mais, e assim sucessivamente, por séculos e séculos amém até a aurora do tempo. E de certa parte eu até entendo... O final dessa música é uma análise muito interessante sobre as mudanças na sociedade que acabam gerando mudanças culturais; afinal, hoje em dia praticamente não dá pra acender mais fogueira na rua mesmo. Mas eu tenho cada vez mais pensado em como eu mudei sim, e lidando como esse sentimento de olhar pra tempos que não voltam mais, não querendo que eles voltassem, mas com um certo luto... E é natural da vida, nós somos feitos dos mortos que carregamos. Também tem um luto por coisas que eu tentei ser, porque pareciam o melhor na época, e agora um sentimento de querer viver e recuperar não o tempo perdido, mas outras vivências e experiências, me permitir.

    Após essa breve divagação que eu nem planejava escrever, voltemos às músicas. Eu sempre tive um período de delay em relação a ouvir lançamentos musicais/do pop, apesar de acompanhar principalmente pelo twitter, por N razões. E isso não só com música mas com qualquer coisa. Agora, pela primeira vez eu passei a olhar isso por um lado positivo, não só como um atraso e procrastinação meus em fazer coisas que eu quero. Passei a enxergar como um período de curadoria pra eu entender o que de fato eu quero ouvir, pra que as coisas ganhem contexto ou eu possa encaixá-las melhor em contextos interessantes pra mim, coisas que se acumulam com o tempo... já que é insalubre pra mim acompanhar tudo que é lançado (além de evitar certos hypes desmedidos). Quem me girou essa chave foi um outro vídeo em que a autora falava sobre contemporaneidade, e que quando a gente fala de coisas distantes no tempo elas já estão validas de várias formas, mas o que é contemporâneo é a gente que tem que separar o joio do trigo:

E se o problema não for você... mas o livro? - conversa interessante sobre interpretação e que as vezes o livro é ruim mesmo, tem também um outro vídeo sobre a situação contrária, ambos ótimos.

 

Aqui vai o apanhado final que foi muito impulsionado por eu ter voltado a fazer crochê recentemente e assim descoberto novos álbuns:

Side A// A sonoridade meio esotérica de muitas músicas do Geraldo Azevedo, assim como do Grande Econtro e de seus artistas, curiosamente combina muito com a playlist anterior, barroca.

Geraldo Azevedo 

Todas do Grande Encontro, Você Se Lembra, Caravana, Canção da Despedida (um rei maaaaal coroaaaaaado) - uma fábula que eu amo.

Papete

O álbum Bandeira de Aço que eu nunca tinha ouvido, só Boi da Lua que é um hino do Bumba Meu Boi. Tem um pouco de tudo mas é interessante perceber como esse álbum (e as toadas de boi) tem um andamento meio que às vezes é festivo, mas muitas vezes também é meio triste e soturno, e às vezes essas coisas se misturam. Destaco também Dente de Ouro.

Ney Matogrosso - Poema

Também poderia fazer um greatest hits, mas vou destacar essa música em potencial. Sim, fui influenciado pelo filme e ainda não assisti. E que bom que ele existe e é uma homenagem maravilhosa em vida.

Side B// Artistas que, dentre outras, tem repensado o que é pop, estando dentro dele.

Pinkpantheress

Destaco Close to you, Bury me, e da última mixtape: Illegal, Tonight e Stateside. Eu adoro a estética dela, a pessoa dela, como ela é extremamente geração Z. Muito se reclama (eu incluso) sobre músicas feitas pra Tiktok mas acho que ela é parte de um seleto grupo de artistas que entende as redes sociais de uma forma muito íntima e faz música não para a internet mas a partir da internet, porque afinal, fomos criados nela. E isso transparece em como a Pink emula nostalgia em visuais, samples, forma de lançamento (ela tem um segundo canal com foto de perfil de Crepúsculo e lyric videos em Comic Sans), mas sem se reduzir só a isso. Ela é o futuro da música!

Amaarae

O álbum Fountain Baby foi hit na minha timeline em 2023, aliás, as 3 artistas pop citadas aqui tiveram álbuns lançados nesse ano que eu só ouvi agora. Ainda não tenho certeza sobre ele mas o que me fez ir atrás é que ela lançou um novo single, S.M.O., que eu adorei e a capa do futuro álbum que é ela na frente da bandeira de Gana (que contém as cores vermelho, amarelo e verde, assim como a da Etiópia, inspiração para as cores do Reggae.) 

Caroline Polacheck

Eu adoro a estética estranha, e a voz dela. Por acaso eu vi há uns dias que o álbum mais recente dela é cheio de reprises, pedaços de melodias/elementos que se repetem entre músicas, que eu achei um recurso genial e pouco usado no pop, pra o tanto que é efetivo e econômico. Destaco o lançamento On the beach, e do álbum mais recente, Pretty in Possible ( ♫ da da da da da da da ♫), além dos singles que eu já conhecia: Sunset, Billions e Bunny is a Rider.

Bônus: Regina Spektor - While my guitar gently weeps 

Mais uma dessas que o aleatório te lembra que você gostava, eu nem lembrava mais desse filme, e essa versão com a instrumentação japonesa é perfeita. Curiosamente eu tenho ouvido várias músicas recentemente que me lembram o Japão, ou não sei se é a Björk.



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