Eu sempre fui muito mosca morta em relação a socialização e coisas que acontecem ao meu redor. E eu digo mosca morta porque não é que eu seja incapaz de tudo, sem noção, mal educado ou algo do tipo. Mas uma coisa que sempre me deixou intrigado é que eu sempre sentia que conseguia interagir bem com as pessoas, mas nunca criar vínculos (pra além dos que eu já tinha). Parêntesis nessa última afirmação, se tem uma coisa que eu nunca me sentia confortável foram interações em grupos grandes. 
   O ponto é que ultimamente eu tenho começado a sair mais, após nunca ter feito isso e nunca saber como fazer, na verdade. E estou descobrindo que não tem um como, é só você fazer mesmo. Isso tem me treinado melhor a situações e interações sociais mais dinâmicas: conversar com uma pessoa sendo interrompido por outras que você nem imaginava, encontrar gente conhecida, encontrar gente que você só conhece de vista. Eu nunca soube muito bem como agir nessas situações e me sinto uma criança aprendendo a engatinhar. Ao mesmo tempo eu me digo que tudo é questão de experiências e que eu não estou "atrasado", só me movendo no meu tempo, e que eu também tenho experiências (e necessidades) que as outras pessoas não têm.
     Teve um evento em particular esse mês em que eu me reuni com ex colegas de trabalho e fomos comer pizza e depois tomar caipirinha juntos (aliás meu deus que caipirinha gostosa), coisa impensável pra mim a uns tempos atrás. Eu sempre me sentia exatamente assim em interações desse tipo:
    Acho que estar mais consciente de mim tornou muito mais fácil esse tipo de situação. Me permitiu... ser eu mesmo. Por mais que isso pareça muito vago. Antigamente, como era extremamente raro e espaçado eu interagir com pessoas fora do meu convívio já cotidiano e reduzido, eu sempre ficava querendo compensar eu acho. E eu sempre tive uma tendência muito impulsiva em conversas de falar primeiro e pensar depois, querer responder o que a pessoa falou sem nem pensar, preencher o silêncio, não deixar o assunto morrer, na ânsia de mostrar que eu tava ali e forjar alguma conexão. Obviamente isso não só não funcionava muito bem como tbm gerava o efeito de me fazer ficar repassando essas interações depois, pensando "porque eu falei isso?" "será que era pra ter feito isso nessa hora?" "será que fulano achou isso?". portanto um loop sem fim.
    Agora, um pouco mais acostumado, eu percebo que não tem nada pra ser feito além de conversar como eu naturalmente converso. Que é normal um grupo grande se subdividir em conversas paralelas que vão se alternando. Que eu não preciso responder a tudo, por mais que venha um pensamento na minha cabeça, nem preencher todo silêncio por mais que eu costume ser engraçadinho (ou vai que eu já me tornei assim por causa desse hábito?). Isso tbm tem aliviado demais minha sensação de "vergonha" em relação a ter falado coisas fora de hora sem perceber, porque eu sinto que não acontece tanto, e quando acontece (o que é normal, todo mundo fala alguma coisa meio estranha uma hora ou outra) não é tão importante assim. Eu disse criança engatinhando, não disse?
    É como se eu tivesse aprendendo quase com experimentos científicos o que tem gente que já nasce sabendo, mas vida que segue. Eu tenho achado cada vez mais fascinante o chamado small talk, a conversa fiada e rasa que as vezes é tão criticada, porque percebo que é só através de conversas rasas que você vai se entrosando e sentindo o terreno com as pessoas pra poder ir aprofundando. E um outro pilar muito importante: falar mal de pessoas odiadas em comum. Eu sempre tive muito problema em perceber quando era "seguro"  fazer isso, porque tinha aquela mentalidade de não ser pego fazendo fofoca (até porque ja fui acusado injustamente disso mais de uma vez e ficou o trauma). Mas percebi que às vezes tá tudo bem reclamar do chefe, de professores e etc e que é através desses ódios em comum que a gente vai se conectando com as pessoas. Até porque se não der pra falar mal do chefe com colegas de trabalho que tão passando pela mesma coisa, vc vai falar com quem? No meu caso eu falava no meu grupo de amizades, mas aí eu acabava reduzindo todas as minhas interações sociais às mesmas pessoas, passando a imagem de distante e pessoa que não se mistura.
    Sem perceber, nos últimos anos eu tava nutrindo bastante (e sendo nutrido por) um tipo de conversa que reforçava muito a coesão interna do meu grupo, mas ao mesmo tempo nos distanciava das outras pessoas; não só pelos assuntos mas pela forma de falar das pessoas e enxergar elas. Por isso que botei ali em cima a Primeira Ministra do cringe, a Carrie de Sex and the City (não, eu ainda nao assisti a série mas já me sinto íntimo.) Porque é sempre imagens dela que me vem na cabeça quando eu percebo que tô tendo uma conversa sobre coisas "fúteis" com outra pessoa com um drink na mão, e consigo me identificar com histórias ou situações malucas, às vezes não pela história em si mas o que levou a pessoa a isso. Fica a pergunta; cringe ou livre? deslumbrada ou intensa? trouxa ou vulnerável? uma bagunça ou apenas... humana?
 
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