segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Uma série de eventos mais ou menos desafortunados e o que se pode aprender com eles

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Aprendizados sobre cozinha e entender meus processos e me perdoar

Há umas semanas eu estava sem uma das medicações que me permitem viver funcionalmente, o metilfenidato ou concerta para os íntimos. Sem ter mais ao que recorrer além de um milagre dos céus, já que eu não tinha cabeça nem energia física pra fazer o que eu já faço (ler, desenhar, crochê, etc.) e pensando em saciar meu desejo por doces eu resolvi apelar pra cozinha e tentar um brownie. Surpreendentemente, acabou dando certo! Até demais...

Acontece que aqui em casa todo mundo gostou, e eu tenho uma irmã autista com hábitos alimentares bem restritos e peculiares (estranho era se não fossem), e antes que eu pudesse perceber eu fui promovido a doceiro dela. Daí vieram literalmente as desventuras em série. Cada vez que eu repeti a receita uma nova surpresa aconteceu.

Na primeira vez eu assei por 15 minutos, e quase quis queimar. Aí na segunda vez por causa do sucesso eu dobrei a quantidade pra render mais, e usei uma forma maior, e assei pelos mesmos 15 minutos mas aí acabou ficando meio cru e com gosto de bolo. Ainda que na minha cabeça as duas massas tenham ficado da mesma "finura" sobre as formas, aprendi na marra que de alguma forma a massa dobrada precisava assar mais. Foi o que eu fiz da terceira vez, que achei okay mas no segundo e terceiro dias já ficou seco demais.

Único registro decente que eu tenho, da segunda receita

Na quarta vez eu já tinha peneirado todo o açúcar do pacote aqui de casa e não descia mais nada na peneira, então sem paciência eu joguei o açúcar grosso mesmo na receita. Pra completar, nessa vez minha mãe resolveu me ajudar e minha irmã tava presente também, ou seja, um galinheiro na cozinha, e por causa disso eu acabei colocando uma parte do chocolate na massa antes da margarina (você só coloca os ingredientes secos - tirando o açúcar - no final). Resultado = uma massa pesada e totalmente solada, e desde então foi decretado que eu tinha que fazer sozinho mesmo, fazendo valer a superstição que bolo não pode ser batido por duas pessoas. Além disso teve toda uma série de hipóteses do porque a massa deu errado, eu só me lembrei do açúcar bem depois. Agora parece óbvio, mas eu pensei em inúmeros fatores que podiam ter levado a esse resultado.

Porque não usar um açúcar mais fino então? Fui atrás de açúcar refinado, só tinha de confeiteiro, não deve ser tão diferente assim... Ledo engano.  Não ficou um desastre mas deu uma mudada no gosto e não formou casquinha! O meio termo encontrado foi passar o açúcar normal no liquidificador pra que ele se tornasse mais fino e pudesse ser aproveitado todo, e não ficasse metade na receita e metade na peneira. Até que deu um resultado ok, e nisso se foram 6 tentativas

Até brinquei que deve ter sido assim que descobriram quantos dias precisava cozinhar a maniçoba. Nessa penúltima tentativa, que coincidiu com meu primeiro dia de volta ao meu antigo remédio (aleluia) eu tive um pequeno baque de ansiedade, que felizmente não virou uma crise. Acho que após tantas tentativas frustradas eu fiquei abalado que mais uma tinha dado errado, sendo evitável na teoria (eu podia ter pesquisado melhor o tipo de açúcar antes de comprar, ou até antes de abrir e fazer a receita). 

Mas por algum motivo eu comecei a perceber também que esse pensamento que eu reproduzi por tanto tempo era meio que lutar contra a corrente. Sim, eu podia ser uma pessoa com capacidade de planejamento e tomada de decisões e que consegue calcular vários fatores e variáveis em cada circunstância e escolher de forma certeira. Mas eu não sou, e se a minha capacidade pra essas coisas não chega a 100%, dependendo do dia ela vai se tornar menor ainda. Eu cheguei a conclusão de que ninguém ia morrer por causa disso, apesar de ainda ter uns gatilhos antigos. E não quer dizer que eu tô feliz em ser avuado sempre, mas eu percebi que qualquer possibilidade existente de eu trabalhar melhor essas minhas questões tem que partir da minha condição real, e não idealizar a forma como eu deveria agir e depois me culpar quando (inevitavelmente) eu não alcançar ela.

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